Em relação aos inúmeros protestos que estão ocorrendo pelo país, gostaria de deixar umas palavras para reflexão.
Na verdade, penso que protestos já deveriam estar acontecendo há muito mais tempo. Eu apoio e sempre apoiei os movimentos voluntários que há anos lutam por mais união entre as pessoas no combate à corrupção e aos desmandos no poder público. Alguém se lembra dos diversos "Dia do Basta" que aconteciam contra a corrupção? Este blog mesmo chegou a publicar várias chamadas para estes dias de protestos contra o que considero o mal pior de nosso país. Lembro que, apesar de ampla divulgação e da antecedência com que eram marcadas as datas, poucos eram os protestantes que compareciam. Proporcionalmente às manifestações de agora, podemos dizer que uma meia dúzia de pessoas participavam dos eventos.
Agora fica a pergunta: por que o povo não participava em grosso número nestes protestos?
Em relação a protestar contra a corrupção reinante, contra a violência crescente, contra a impunidade, contra a ação totalmente invertida dos "direitos humanos", isso ninguém faz.
O que estamos vendo é algo minimamente estranho! Tomar tamanha proporção assim de repente, sendo que de vários protestos anteriores quase ninguém participava, sinceramente eu acho estranho e penso que o povo pode sim estar sendo guiado por algum grupo, com interesse de ganho próprio, que esteja agindo por trás destes protestos. Há tanto tempo somos escravos dos impostos exorbitantes, sem retorno na qualidade dos serviços, tantos desmandos de várias ordens, e a questão da passagem só agora foi o que revoltou o povo?
Há que haver protesto sim, mas de forma inteligente, amplo. O povo precisa antes se conscientizar da mudança em si próprio e no seu modo de agir dentro da sociedade. Protestar contra o jeitinho brasileiro de passar a perna no outro para se dar bem, contra essa violência absurda em que vivemos, contra a inversão da proteção aos direitos humanos, contra a corrupção e ao modo de enxergar a administração pública como meio de se dar bem.
Hoje passou aqui na TV o caso de um assaltante que abordou o pai que estava com o filho de dois aninhos no colo. Atirou no pai, mas o filhinho foi escudo. O pai se feriu, mas o tiro fatal ficou com o bebê. Muito triste, o pai está internado e saiu do hospital só para ir ao enterro do filho, está transtornado... pergunto: onde ficam os Direitos Humanos? Vejam o que diz o art. 3º da Declaração Universal dos Direitos Humanos:
"Artigo III
Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal".
Então, cadê o respeito a esse artigo? Por que a comissão de Direitos Humanos não luta pelo direito à vida e à segurança que todos temos? Por que só aparece para proteger os criminosos?
E ainda, há quanto tempo estamos todos compartilhando informações do quanto estão gastando nas reformas dos estádios de futebol, e do quanto que hospitais e escolas estão abandonados pelo país afora... agora que tudo está pronto é que surgem as manifestações? Por que antes, apesar de tanta divulgação, reinou a inércia total?
Isso tudo que precisa mudar...
Outra coisa que penso: atos de vandalismo fazem perder a razão. E vandalismo gera violência por parte da polícia. Não estou defendendo a truculência de alguns policiais não. Carecem de preparo, de treinamento adequado para agirem em situação de tensão, como mostram claramente alguns vídeos sobre os protestos. Mas não é correto também que semeiem uma revolta contra os policiais (certas matérias parecem querer fazer isso). Ontem mesmo vi no facebook, um comentário de uma pessoa do povo que traduz essa revolta. Na foto, havia um manifestante carregando no colo uma policial ferida, levando-a para o socorro. E um popular comentou na foto que o manifestante era um idiota! Vejam bem, o manifestante foi chamado de idiota por estar salvando um ser humano! Então, muitos do povo perdem a noção, vão "na onda", aprovando a violência e colocando os policiais como inimigos a serem exterminados. Isso também é perigoso, pois estamos precisando muito de uma polícia mais preparada, mais bem remunerada e de maior efetivo, pois a insegurança reina. Quanto mais o povo se antipatizar com a polícia, maior o incentivo à bandidagem.
Na verdade, em toda manifestação popular de grande porte, sabemos que podem haver ali policiais despreparados e também manifestantes violentos. De ambos os lados há pessoas que não sabem agir da forma adequada, que não possuem estrutura emocional para agir devidamente. Como vivemos em uma democracia, ambos os lados precisam ser respeitados, e em qualquer manifestação, o vandalismo, a violência e a truculência devem ser combatidos, mas não se deve generalizar atacando a imagem de uma instituição inteira.
Vejo ali cidadãos e policiais, ambos vítimas de todas essas causas maiores que citei acima: corrupção crônica reinante; desprezo aos deveres da administração pública; hábito de enxergar o poder público como forma de enriquecimento pessoal; impostos excessivos e proporcionalmente nenhum retorno para a sociedade; falta de valorização dos profissionais públicos que lidam com os serviços essenciais e com os serviços de educação e formação dos cidadãos; e, por fim, vítimas do famigerado hábito cultural do famoso "jeitinho brasileiro" , que faz com que os cidadãos, no seu dia-a-dia, em pequenas situações, busquem sempre se sair bem ainda que passando a perna ou simplesmente desprezando os direitos do outro.
Enfim, o "inimigo" é outro. Não é a polícia. E não é o aumento da passagem. O inimigo é muito mais forte, é muito maior, e contra ele é que já deveríamos ter acordado há muito mais tempo, contra ele é que devemos nos manifestar.
Luciana G. Rugani
Excelente matéria.
ResponderExcluirPensar é sempre bom.
Ética, dedicação, boa vontade e nobreza de carater farão com que a nossa sociedade cresça com mais justiça.
Parabéns Luciana, não é "divagação". Você foi no âmago do problema.O inimigo é outro.....a PM apenas cumpre a sua missão constitucional.
ResponderExcluir