A física e a matemática são ciências exatas. Não há o que questionar em suas fórmulas, não há "mas" nem "talvez". Alicerçadas em suas fórmulas e teoremas, obras incríveis são edificadas, e isso tem sido assim desde tempos antigos, como, por exemplo, na utilização de cálculos precisos para construção das pirâmides no Egito.
A engenharia tem por base principal estas duas ciências. Qualquer obra construída em conformidade com os cálculos e normas de engenharia e em local com boa estabilidade geológica, podemos dizer que certamente tem tudo para ser uma obra firme, segura e durável. Mas esta certeza começa a se abalar quando, à exatidão dos cálculos, une-se o componente humano. Vejamos sobre o caso do viaduto em construção que caiu recentemente em Belo Horizonte matando duas pessoas e ferindo outras vinte e três:
O caso ainda está sendo apurado, mas algumas considerações já começam a surgir.
Não sou engenheira, mas, de forma geral, penso que se há um projeto de construção, principalmente em se tratando de uma obra pública, como é o caso, este projeto deve ser aprovado pelos órgãos competentes, onde se verifica sua exatidão entre outros quesitos. Além disso, deve ser realizada uma sondagem no terreno para se certificar de que o solo suporta aquela obra e que o projeto seja adequado para ficar em consonância com as condições do solo. Posteriormente, vem a fase de execução da obra, sempre sob os olhos atentos da fiscalização do poder público, que, logicamente, deve contar com um corpo técnico capacitado para isso.
Se considerarmos a hipótese de algum erro em algumas destas fases, lembremos que, pelo menos em tese, houve fiscalização pública em todas as etapas. Pode acontecer de passar algum erro, mas, se pensarmos bem, é muito difícil um erro passar despercebido quando há uma fiscalização bem feita e completa. Se passou, é sinal de que há também alguma falha nesta fiscalização.
Agora vamos considerar a hipótese do uso de materiais e prazo inadequados. Aqui é que o componente humano a que me referi acima tem chance de fazer mais estragos. Foi publicado na imprensa que o projeto deste viaduto já estava sob investigação do Ministério Público Estadual, o qual identificou superfaturamento de materiais, falhas diversas na execução da obra, e também problemas com prazo de entrega. Ora, o que é isso senão o dedo de politicagem suja a interferir e anular a perfeita exatidão da engenharia? Sabemos que superfaturamento de custos envolve favorecimentos acordados com empreiteiros e "oficializados" através de licitações forjadas, onde geralmente paga-se um alto valor pelo material e em contrapartida recebe-se material inadequado, de baixa qualidade. Nenhum brasileiro desconhece que exista essa cultura muito comum de colocar o bem público a serviço de benefícios particulares, benefícios estes que derivam do financionamento milionário das campanhas políticas por empresários e "laranjas".
Que engenharia de qualidade resiste ao componente político mal intencionado? Bastou essa constatação do MPE para que a credibilidade de todo o processo também caísse por terra. Se constata-se o superfaturamento, pode-se confiar também na fiscalização exercida ou ela não estaria sob suspeita?
O que normalmente acontece em casos como este é apontarem um culpado, geralmente um engenheiro, ou outro funcionário qualquer, um bode expiatório, sem irem além na apuração das circuntâncias
e pressões que levaram este funcionário à execução do projeto daquela forma. As pressões, o material de baixa qualidade, a ordem de cima para que a obra siga em ritmo acelerado e com corte de custos, normalmente nada disso é apurado. Aponta-se como culpado um indivíduo que lida diretamente na obra e olvida-se as pressões e desmandos dos hierarquicamente superiores.
A queda deste viaduto em BH vai ficar na história da engenharia. Um triste fato que veio mostrar que existem limites a serem respeitados. Não adianta tentar burlar as normas e cálculos para aumentar o "ganho". A exatidão da engenharia não se submete aos delírios de ganância da corrupção.
A população deve acompanhar esta apuração, este fato não pode cair no esquecimento, precisamos parar de achar normal esse jogo corrompido que impera há muito nas administrações públicas. Pode ser comum, mas não é normal, não é o correto. A corrupção mata todos os dias, e este acontecimento pode ter sido uma triste amostra desta realidade.
fonte das informações:
http://noticias.r7.com/minas-gerais/construtora-de-viaduto-que-desabou-em-bh-e-investigada-por-superfaturamentos-de-r-271-milhoes-14072014
http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2014/07/04/interna_gerais,545281/obra-do-viaduto-que-desabou-em-belo-horizonte-estava-atrasada-e-superfaturada.shtml
http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/Mobilidade-na-corda-bamba/
Luciana G. Rugani
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