Hoje, navegando pela internet, encontrei o texto abaixo. Achei interessante pois, apesar da aparência cômica, nos passa uma ideia daquela parcela da sociedade composta, na verdade, por pessoas dotadas de uma baixa autoestima tremenda. Pessoas que não possuem em si os pilares para se sustentarem (sustentar no sentido de suster, firmar) perante si mesmas e perante os outros.
Precisam daquele algo externo que lhes permita sentir-se gente realmente. Carecem de mostrar sua força e poder através da ostentação, da aparência viril, da busca quase que rastejante pela inserção na popularidade. Sem a humildade necessária para aceitarem a realidade de meros seres humanos com personalidade adoentada, fogem dela concentrando sua percepção nesse mundinho artificial que constroem como proteção e fuga, e a partir daí o estrago está feito. Em seu íntimo, tornam-se vítimas das ilusões criadas, e, externamente, podem até mesmo se reduzirem a meros objetos daqueles outros com traços de psicopatia (psicopatia na maioria das vezes não usa de violência física), que não pensarão duas vezes em usá-las para atingirem seus objetivos.
Apenas uma ressalva vale a pena ser feita: acho que o texto poderia ter retratado ainda melhor essa realidade ao explicitar o sentido de "pobre" como sendo um "pobre de conteúdo", ou seja, uma pessoa que, não importa se materialmente rica ou pobre, ainda não conseguiu se preencher de si mesma, evoluir e ampliar sua percepção e dar-se o valor que possui e não percebe. Por isso o termo "pobre", pobre de construção própria, íntimo vazio, aparência reluzente e conteúdo zero.
Luciana G. Rugani
OS POBRES DE LUXO
por Maria Angélica Carnevali Miquelin
por Maria Angélica Carnevali Miquelin
Eles são de todos os lugares, ou de lugar nenhum. Geralmente se intitulam artistas plásticos, donos de estilo próprio e elitizado. Dizem ditar moda, serem convidados para as festas mais badaladas, e afirmam que fora do padrão aceitável para eles, todo o resto do mundo é simplesmente ridículo.
Pessoas de uma língua impar e de uma mania incontida de se vangloriar quando se comparam com algum ser, geralmente chamado por eles de “ser inferior”.
Andam com a conta bancária no limite do cheque especial, o cartão de crédito estourado, e sem um centavo no bolso, mas acreditam que vão fisgar um otário endinheirado que queira fazer parte da “high society” imaginária dos bajuladores.
Estes sanguessugas bem vestidos, e nem sempre educados, estão por toda parte, lojas de grife, academias famosas, salão de beleza com renome, restaurantes caros, etc.
Moram em bairros de luxo em apartamentos apertados com decoração exagerada, pois como não tem nada, gostam de parecer que tem um pouco de tudo, numa miscelânea de estilos que eles chamam de “zen”.
Geralmente eles não têm um automóvel, afinal ser “chic” é andar de taxi, de bike e de preferência de carona no carrão do amigo abastado.
Dizem-se “experts” em vinhos que nunca tomaram ou poderão tomar, conhecem tudo sobre países que jamais irão conhecer, salvo se encontrarem um rico solitário a fim de companhia, e disposto a pagar a passagem do amigo sempre alegre e prestativo.
Sonham com passeios de iate, jatinhos particulares e mansões que afinal serão realidade se casarem com as pessoas certas. E para encontrar essas pessoas vale tudo, frequentar lugares badalados pela mídia, se endividar para comprar aquela roupa de grife, ou usar aquele perfume importado.
Pobre de luxo é assim. Não tem onde cair vivo, mas parece a pessoa mais bem sucedida da face da terra. Entende um pouco de tudo e por isso não sabe aprofundar assuntos, sendo extremamente superficial e evasivo quando lhe perguntam sobre coisas que não sabe.
Quando é do sexo masculino o pobre de luxo é um Don Juan. Quando do sexo feminino, a pobre de luxo é aquela modelo e atriz que ninguém ouviu falar, mas que está pronta para qualquer parada, desde que esteja na mídia.
Os ricos de berço costumam manter boa distância destes larápios. Quem costuma cair na lábia dos pobres de luxo são os ricos emergentes, e os que se acham ricos. Os ricos emergentes são os tipos que batalham muito e conquistam seu lugar ao sol com suor e lágrimas, e se orgulham disso, precisando ostentar suas conquistas materiais. Os que pensam que são ricos são aqueles que ainda se preocupam com a conta do restaurante e se o dinheiro vai fazer falta para aquela liquidação de ponta de estoque.
Nesse artigo não me refiro a políticos que ficaram ricos a custa da ignorância do povo, pois com esse, o pobre de luxo não tem vez. Esse gosta de luxo, e sabe fazer a política para se manter no poder. Não é bobo para cair na lábia de um pobre de luxo, mas pode usar o larápio para ser laranja de alguma falcatrua.
Ricos de berço são aqueles indivíduos que nunca foram pobres, mas foram educados para manter os pobres de luxo à distância, embora alguns ricos cometam deslizes e se casem com algum pobre de luxo, paixão é uma droga.
A tal classe média, a classe média baixa, os pobres e os miseráveis não são atacados pelos pobres de luxo por motivos óbvios: sem dinheiro para esbanjar, sem presentes caros, são completamente dispensáveis.
O pobre de luxo gosta de sair na revista ao lado de outros pobres de luxo que já conseguiram sua celebridade. Enquanto buscam a fama a qualquer custo, todos os outros mortais, pobres ou ricos estão batalhando, afinal quem não trabalha é vagabundo ou pobre de luxo".
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