Estamos em período eleitoral. Época de propaganda de candidatos e também de divulgação do pleito pelo governo.
Como sempre acontece nessa época, a divulgação do governo se resume a algumas propagandas do TSE bem simplistas e utópicas. Nada de abordar questões práticas, reais, mas que não são nada românticas, sobre o processo eleitoral. Nada de abordar compra de voto, troca de voto por vantagens, voto de cabresto, puxadores de voto, etc..etc.. Até parece que nada disso existe no Brasil.
A frase da campanha de divulgação na TV deste ano começa assim: "está chegando a hora mais importante da vida dos brasileiros: as eleições. A hora da nossa voz ser ouvida, não deixe ela passar...vamos fazer valer nosso direito, é a nossa chance de votar...". Isso me fez refletir: "hora mais importante"? "Hora da nossa voz ser ouvida"? No mesmo instante lembrei de algumas questões:
1º) urnas eletrônicas: diversos especialistas afirmam que o sistema brasileiro não é seguro, inclusive neste ano até o próprio TSE e o MP afirmaram que as urnas não são confiáveis (http://www.fraudeurnaseletronicas.com.br/2014/08/ministerio-publico-urna-eletronica-e.html e http://eleicoes.uol.com.br/2014/noticias/2014/08/29/tse-sugere-que-urna-eletronica-esta-sujeita-a-fraudes.htm). O sistema é muito suscetível a fraudes, inclusive há relatos de falhas em eleições passadas, quando alguns eleitores se queixaram de que votaram em um candidato, mas seu voto foi para outro. Aqui neste blog há dois textos com vídeos que tratam do assunto: http://www.cantinhodasideias.com.br/2012/06/verdade-sobre-as-urnas-eletronicas-ii.html e http://www.carpediemluciana.com/2012/03/verdade-sobre-urnas-eletronicas.html;
2º) Não são poucos os brasileiros que veem a eleição como um negócio rentável. Não é pequeno o número de pessoas que trocam seu voto por benefícios diversos, seja dinheiro, cesta básica, favores, cargos, etc. Algumas pessoas, quando convidadas por outras para apoiar esse ou aquele candidato, costumam dizer algo como: "mas o que eu ganho em apoiá-lo, que que vou ganhar com
isso?"
3º) Um amigo (servidor terceirizado do poder legislativo de certa capital) relatou-me o que passa, juntamente com seus colegas, para que seja possível a continuidade dos seus empregos. Segundo ele, aquele servidor que não tem o seu "padrinho", automaticamente estará fora, e aqueles que os têm precisam se submeter a uma série de atividades eleitoreiras e ainda são ameaçados de terem seus votos checados, de acordo com a seção eleitoral em que votam, quando da divulgação do resultado no site do TRE.
Trata-se, na prática, da "oficialização"da instituição dos "padrinhos", costume que o conhecimento geral sabe ser muito comum em todo o país.
Há outras questões, mas por hora fico somente com estas três, mais que suficientes para que pensemos o seguinte: em um país em que, para significativa parcela dos brasileiros, o voto é condicionado a benefícios, a pressões diversas, e que ainda possui um sistema de urnas eletrônicas facilmente fraudável, podemos dizer que nossa esperança de mudança de toda essa sistemática que temos hoje no mundo político reside no voto? Podemos dizer, como afirma a propaganda oficial, que estamos fazendo valer nosso direito e fazendo ouvir nossa voz?
Trata-se, na prática, da "oficialização"da instituição dos "padrinhos", costume que o conhecimento geral sabe ser muito comum em todo o país.
Há outras questões, mas por hora fico somente com estas três, mais que suficientes para que pensemos o seguinte: em um país em que, para significativa parcela dos brasileiros, o voto é condicionado a benefícios, a pressões diversas, e que ainda possui um sistema de urnas eletrônicas facilmente fraudável, podemos dizer que nossa esperança de mudança de toda essa sistemática que temos hoje no mundo político reside no voto? Podemos dizer, como afirma a propaganda oficial, que estamos fazendo valer nosso direito e fazendo ouvir nossa voz?
Acho que já é tempo de nosso TSE e nossa mídia abordarem o assunto de forma mais realista, chamando a atenção para fatos como os que citei, fatos que sabemos que ocorrem de norte a sul de nosso Brasil, pois a questão é cultural. Como diz o professor Osmar Ventris: "O
mesmo eleitor que critica e pede moralidade e ética, é o mesmo que pede
para "quebrar seu galho" ignorando a moralidade e a ética! O mesmo
eleitor que critica e abomina a corrupção, elege corruptos, vende seu
voto, busca favorecimentos imorais para si e sua família. O problema não é do eleitor ou do político eleito. O problema é cultural! Daí,
não adianta trocar os políticos nem os partidos políticos, porque os
substitutos repetirão os mesmos vícios dos anteriores, lembrando que os
políticos são cidadãos eleitos livremente em voto secreto por outros
cidadãos, dentre os quais, muitos sonham com o poder político, não para o
bem comum, mas para melhorar de vida! Cultura não muda do dia para a noite".
São necessárias campanhas educativas mais de acordo com nossa realidade. Campanhas que busquem alertar para o fato de que um benefício recebido aqui a curto prazo, em troca do voto, pode significar total estagnação no dia de amanhã. Campanhas que esclareçam que o voto é o registro de uma vontade, e uma vontade para ser real deve ser livre. O voto deve ser um instrumento de opção consciente, pois um ser humano só é livre verdadeiramente quando tem sua vontade e consciência respeitadas. E só um ser humano livre é capaz de, amanhã, analisar, opinar e reivindicar ações não realizadas pelo Poder Público.
Nossa sociedade precisa buscar um amadurecimento moral, exercitar um proceder menos individualista e mais social. Isso que precisa ser trabalhado nas campanhas de divulgação realizadas pelo governo, de forma real e direta, sem fingir que não existem estas mazelas.
Nossa sociedade precisa buscar um amadurecimento moral, exercitar um proceder menos individualista e mais social. Isso que precisa ser trabalhado nas campanhas de divulgação realizadas pelo governo, de forma real e direta, sem fingir que não existem estas mazelas.
O voto será nossa esperança de mudança somente quando for algo realmente legítimo, e a legitimidade do voto só acontece quando ele materializa nossa vontade real, consciente e íntima, caso contrário seguiremos na mesma hipocrisia que tanto tem caracterizado as campanhas oficiais.
Luciana G. Rugani
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