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INCOERÊNCIAS E DISSONÂNCIAS

Hoje, no Blog do Totonho, faço uma reflexão sobre alguns dos últimos acontecimentos e sobre as incoerências e as dissonâncias por parte de uma parcela da sociedade.


Voltemos no tempo. Voltemos a 2018, quando aconteceu a prisão de Lula, em decorrência de um processo tendencioso, cheio de erros judiciais e sem provas, pleno de suposições e notoriamente direcionado a condenar, conduzido por um juiz seduzido pela promessa de vir a ser membro do Supremo Tribunal Federal - STF, caso houvesse a condenação. Imaginem se, naquela época, Lula, seus apoiadores e seus partidários no Congresso Nacional fizessem movimento em prol do impeachment de ministros do STF ou elaborassem planos para dar  fim na vida de políticos ou de ministros do STF. Imaginem se ele tivesse um filho deputado que, de fora do país, incentivasse, junto ao governo de outro país, medidas prejudiciais à economia brasileira. Imaginem se seus deputados apoiadores boicotassem os trabalhos do Congresso, prejudicando, até mesmo, a votação de projetos benéficos à população mais vulnerável. Como seriam tratados Lula e todo esse pessoal? Com certeza, não teriam sido poupados. E aqueles que fossem julgados, o seriam sem nenhum respeito ao devido processo legal. Se fossem trocados de lado os agentes de tudo isso que está acontecendo hoje, com certeza os que hoje saem em defesa das aberrações jurídicas e não jurídicas de criminosos baderneiros não o fariam, e ainda exigiriam a condenação.
As atitudes do ex-presidente, aquele inominável, encaixam-se perfeitamente na tipificação de inúmeros crimes. E nem citarei aqui as evidências de crime, como a compra de 51 imóveis com dinheiro vivo, inclusive mansões caríssimas. Acredito que muita coisa ainda se transformará em denúncia. Mas todos vimos, por exemplo, como foi criminosa a sua atitude em tempos de pandemia, quando incentivava a transmissão do vírus e negava a vacina. Quantos amigos ou familiares talvez ainda estivessem vivos, se não fosse a atitude criminosa desse ser. E todos vimos, também, seus inúmeros discursos pedindo intervenção militar e fim do STF. Tudo que fosse favorável ao caos, ele incentivava. Seguia fielmente a diretriz da extrema direita mundial, de semear a sensação de caos, de medo e de descrença nas instituições, tudo isso preparando o terreno para que, assim, seus iludidos seguidores abraçassem fielmente suas notícias falsas vertiginosamente divulgadas. E não bastou cultivar ideias de destruição da democracia. Juntamente com sua cúpula de militares, elaboraram um plano que culminou naquele vandalismo vergonhoso que aconteceu em Brasília. 
E agora, o que aconteceu foi a apuração dos fatos, inclusive com a delação de militares que fizeram parte do movimento. Um processo repleto de provas devidamente apuradas, um processo que vem sendo conduzido com total respeito ao princípio da ampla defesa, com transparência e respeito aos envolvidos. E, no decorrer desse processo, são estabelecidas medidas cautelares, e ele as desrespeitou! Apenas isso, desrespeito às medidas cautelares do processo. Desrespeitou uma vez, foi dada uma advertência, desrespeitou novamente. O processo prossegue, talvez em breve seja finalizado, com o devido julgamento (e muitos até perguntam por que demora tanto, mas a demora é justamente por estar sendo conduzido com respeito a todos os direitos e aos prazos de defesa). Ele foi avisado de que se desrespeitasse o estabelecido, seria punido. É simples assim, pois assim acontece com qualquer brasileiro que venha a descumprir qualquer medida cautelar enquanto estiver sendo processado.
Não há sentido nenhum em fazer movimentos e protestos dizendo que está havendo arbitrariedade, ou dizendo que vivemos uma ditadura. Basta pensar: se fosse realmente assim, esse pessoal poderia falar isso que estão falando? Poderiam boicotar os trabalhos de um congresso? Poderiam exigir a saída de um ministro do STF? É só deixar de lado o pensamento condicionado ao caos e nutrido com fanatismo e idolatria para, aí sim, conseguir enxergar com clareza a nossa realidade. 
Interessante observar os diferentes níveis de consciência dos povos. Enquanto, por exemplo, em cidades da Austrália e da França, houve manifestações em que milhares de pessoas foram às ruas, embaixo de chuva, pedir o fim do genocídio e do campo de concentração em que Gaza se transformou, um problema gravíssimo da atualidade; e também enquanto o presidente Lula é reconhecido internacionalmente por conduzir o país em sintonia com o multilateralismo das relações internacionais, quando a resolução de problemas globais passa por acordos e respeito a organizações internacionais; enquanto isso tudo acontece lá fora, internamente temos um congresso parado, boicotado por alguns de seus membros que defendem justamente aqueles que pregaram o fim da democracia! E ainda, alguns brasileiros, com total dissonância cognitiva, indo às ruas para pedir anistia dos crimes praticados (o processo ainda nem terminou e essa turma já pede anistia, esquecem que pedido de anistia pressupõe condenação). Percebemos que uma parte de nossa sociedade tem atitudes totalmente desconexas de suas crenças e dos pensamentos que expressam e demonstram ter um nível de consciência ainda bem limitado. Além, é claro, dos que assim agem por oportunismo ou por conveniência para simplesmente garantir seus interesses pessoais ou políticos.
É lamentável que ainda haja pessoas que optam por seguir na idolatria e no fanatismo, fechadas em suas bolhas de informações falsas, incapazes de sair do distúrbio cognitivo que as tomou. Por outro lado, é bom saber que hoje elas são minoria, e que lá fora, no exterior, sociedades já percebem os verdadeiros interesses de dominação por trás dos líderes extremistas e a repetição de cenários perversos que jamais deveriam acontecer novamente.

Luciana G. Rugani 
Pensadora, escritora e poeta

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