Minha coluna no jornal O Cidadão
Cabo Frio em “DESTAQUE”
Dia 11 de setembro de 2015
Por: Luciana G. Rugani
Nos momentos de crise é que se intensificam algumas mazelas de nossa sociedade, ou melhor, sentimos mais forte os seus efeitos. Se vivemos em uma sociedade individualista, o tempo difícil será mais danoso nesta sociedade do que em outra em que predominem hábitos mais solidários. E cada vez mais, as soluções para os problemas modernos passam por medidas que exigem colaboração e espírito de coletividade.
Vivemos um tempo em que a separação pura e simples de competências já não é capaz de solucionar os problemas crescentes. Parcerias são necessárias em qualquer tipo de trabalho que for desenvolvido. E assim também percebemos na esfera público-privada.
Hoje já não dá mais para dizer simplesmente: “isso é problema do poder público”. Em nível gerencial, vemos inúmeras parcerias sendo firmadas com a iniciativa privada para possibilitar a execução dos serviços. Parcerias com outros entes estatais também são criadas a cada instante. Então, como pensarmos uma sociedade atual em que a população também não se veja parceira do poder público? Digo isso porque infelizmente o individualismo em nossa sociedade ainda impera, inclusive há cidadãos que enxergam o poder público como único obrigado a prover e solucionar, esquecendo-se de que a colaboração individual é parcela essencial para um resultado satisfatório.
Foram publicadas matérias sobre restos de obras e entulhos diversos em algumas ruas da cidade, sendo destacado que a prefeitura não está efetuando o recolhimento devido à falta de recursos causada pela crise geral e crise dos royalties. Mas o fato é que, em relação à limpeza urbana, a prefeitura sempre fez um ótimo trabalho e atualmente vem se esforçando para fazer sua parte, apesar do panorama complicado em que vive a cidade. Nos últimos dias, inclusive, a prefeitura organizou mutirões de limpeza, que começaram pelos bairros Guarani e Jardim Caiçara, efetuando o recolhimento de materiais, móveis descartados, matos cortados, etc.
Eu penso que, mais que destacar o efeito de uma causa maior, o momento é de a sociedade acordar para a necessidade urgente de mudança de hábitos. Há muito venho falando sobre conscientização ambiental no meu blog. Quantas vezes falamos da importância do cidadão recolher seu próprio lixo nas praias, evitando deixá-los na areia ou no mar; comentamos sobre quão danoso é o mundo de plástico que vem se formando nos oceanos, causando até mesmo a morte dos seres marinhos. E nas ruas da cidade, vemos muitas garrafas pet, por exemplo, que hoje podem ser reutilizadas ou aproveitadas para os usos mais diversos, desde o artesanal até o industrial. Nos materiais recolhidos pelos mutirões de limpeza, vemos um amontoado de garrafas, vidros quebrados, materiais estes que hoje em dia podem ser entregues em estabelecimentos que funcionam como postos de recolhimento para reciclagem. Há móveis velhos, que poderiam ser doados, ao invés de simplesmente serem descartados nas ruas. Nós falamos, insistimos, colaboramos na divulgação das campanhas educativas da Secretaria de Meio Ambiente e ainda assim grande parte da sociedade segue com os mesmos hábitos nocivos. Há cidadãos que julgam que o poder público é o único responsável pela questão e se esquecem de que, no que tange à limpeza, não há um só responsável, e sim a sociedade como um todo. Ainda que a prefeitura recolha diariamente os entulhos, continua sendo nossa obrigação, enquanto cidadãos, zelar por uma menor produção de lixo e reaproveitamento dos resíduos.
A conscientização se faz urgente em nossa sociedade, nos mais variados temas. Mas na limpeza e cuidado com áreas comuns, isso é notório. Basta observarmos, por algum tempo, as atitudes das pessoas nas ruas ou nas praias. Falta muita consciência e educação.
Essa mudança de hábitos sempre se fez necessária, mas é em tempos de crise que os efeitos negativos da inconsequência e do individualismo se fazem ainda mais fortes. Seria interessante se houvesse, por parte de setores da sociedade com maior poder de alcance, como a mídia e as autoridades em geral, independente de questões políticas ou partidárias, maior engajamento e colaboração com a conscientização ambiental, esclarecendo o cidadão sobre a hoje vital necessidade de parceria e colaboração com a coletividade e com o poder público.
A limpeza de uma cidade só acontece, efetivamente, com a participação de todos. Se o poder público está em dificuldades e forçosamente teve que alterar a prestação de serviços que, para nós, cidadãos, proporcionavam maior comodidade, agora é o momento de buscarmos alternativas e também de revermos nossos hábitos de consumo e descarte. A realidade hoje é outra. Se insistirmos nos hábitos individualistas, agravaremos cada dia mais a nossa situação. A vida pede mudança urgente de postura individual. Comprar sem exagerar nos supérfluos, reaproveitar embalagens, doar, reciclar, levar até os postos de recolhimento, enfim, agir. Quando realmente praticarmos esses hábitos, quando houver a consciência de que a limpeza da cidade está também em nossas mãos e de que o equilíbrio do meio ambiente já não suporta a nossa produção crescente de lixo, aí sim estaremos vivendo de acordo com o que o mundo atual exige de nós para mantermos um mínimo de qualidade de vida.
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