Pular para o conteúdo principal

DIÁRIO CABOFRIENSE: VALDIR DA SILVA, O FOTÓGRAFO CEGO

Minha coluna de hoje no jornal "Diário Cabofriense". Abaixo da foto, segue o texto para mais fácil leitura:

As histórias de vida que retratam superação sempre me encantaram. São histórias de pessoas que souberam dar a volta por cima, que fizeram de sua dor um trampolim para saltar e mergulhar de cabeça na vida, vivendo-a em toda sua plenitude. Pessoas que se encontraram, ou se reencontraram, a partir de uma virada de 180 graus em suas vidas provocada por um fato a princípio doloroso e triste, mas que, devido à enorme resiliência de que são dotadas, tornou-se um desafio que acabou por fazer brotar em si novos dons e capacidades.
Hoje venho falar sobre mais uma destas pessoas, o amigo gaúcho Valdir da Silva.
Valdir ficou cego aos 24 anos de idade, em decorrência de um acidente de trabalho na linha de montagem de uma empresa de calçados em que trabalhava. Quando recebeu do médico a notícia de que ficaria cego em 6 meses, ficou sem chão. Quis desistir, viveu o momento de sua vida em que foi ao fundo do poço. Viveu sua dor ao extremo. Mas olhou para o lado, e percebeu que sua família também sofria por vê-lo sofrer daquela forma. Sua mãe, seu pai, seus irmãos. Foi assim que se deu conta do quanto estava sendo egoísta ao pensar somente na sua dor. Resolveu reagir. Buscou ajuda com sua irmã, sua fiel escudeira. Conheceu a Associação dos Deficientes Visuais (ADEVIC), em Canoas (RS), e acordou para o fato de que existiam outras pessoas cegas como ele.
Começou sua reabilitação, estipulou metas para sua vida. Aprendeu o braile em 6 meses; começou a andar sozinho em 2 meses; fez teatro e passou a representar a associação em diversos eventos. Hoje é vice-presidente da associação; conselheiro do Conselho das Pessoas com Deficiência de Canoas e do Conselho de Educação. Formou-se em massoterapia e começou a pintar em tela. Tornou-se artista plástico. Os desafios surgiam um atrás do outro, então lhe perguntaram: "por que você não fotografa?" A princípio ficou surpreso. Pensou: como um cego iria fotografar? Sua professora lhe falou: Valdir, você pode fotografar, usa seus sentidos!
Foi aí que despertou em si uma nova paixão: a fotografia. Comprou uma máquina simples, começou a fotografar através da voz das pessoas, do barulho do vento, do cheiro e do tato, através do toque das mãos, através do calor e, principalmente, através da essência do ser humano e da natureza. A perda da visão fez que seus demais sentidos se apurassem bastante, a ponto de conseguir fotografar uma pessoa por seu estado de espírito, ou seja, pela energia que ela transmite. O neuropsicólogo Marcelo Rigoli explica que, em pessoas cegas, existem evidências de uma maior ativação de áreas cerebrais normalmente visuais, em tarefas não visuais, se comparadas às que enxergam. Pode até mesmo ocorrer um redirecionamento das populações de neurônios, antes destinados ao sentido perdido, para os sentidos que permanecem ativos, como um processo de compensação.
Valdir ama tudo que faz, pois ama demais a vida e agradece a Deus todos os dias por tê-lo permitido ver o mundo à sua volta de maneira diferente. "Fotografar tudo o que meus olhos não podem ver: este é o meu grande desafio", disse. Começou a mostrar suas fotos para as pessoas, conheceu sua curadora, que organiza suas exposições e palestras e lhe dá dicas valiosas de como levar a beleza do mundo da essência do ser humano e da natureza para todas as pessoas. 

Hoje Valdir tem 39 anos e uma filha linda de 3 anos, cujo desenvolvimento ele acompanha pela voz. É casado, nunca viu sua atual esposa, mas a reconhece pelo perfume e pelo som de seus passos. Pelo tom de sua voz diz se ela está triste ou feliz. Valdir diz estar certo de que é o homem mais feliz do mundo. Aprendeu, depois de cego, a olhar no espelho e ver o seu interior, passou a ser mais tolerante com as pessoas, a valorizar o que há de melhor em cada uma delas. Diz orgulhar-se de ser cego e defender seu segmento, lutando pelo direito à vida, ao amor, à paz e à acessibilidade.
Valdir Silva, além de fotógrafo, trabalha com palestras motivacionais por todo o país, em empresas, escolas, universidades, etc. E ainda corre atrás de seu grande sonho: fazer um livro book com sua história e suas fotos. Para isso, corre atrás de patrocínio. Qualquer empresa ou pessoa que se interesse em patrocinar essa maravilhosa história de superação, ou em contratar suas palestras, pode contatá-lo no telefone e whatsapp o51-997833179 ou em seu perfil do Facebook.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

4ª EDIÇÃO DO BARALHARTE - DISCUSSÃO DE TEMAIS DA ATUALIDADE

Ontem, sábado, aconteceu a 4ª edição do BARALHARTE!  Trata-se de um encontro de debatedores sobre quatro temas atuais, representados pelos quatro naipes do baralho e por quatro regiões diferentes de nosso país. Cada debatedor leva um tema que será debatido pelos demais e também por convidados presentes. Os debatedores desta edição foram eu, Luciana, representando o estado do Rio de Janeiro, Gilvaldo Quinzeiro, representando o Maranhão e Amaro Poeta, representando Pernambuco. Fernanda Analu, representando Santa Catarina, em razão de um compromisso de última hora, não pôde participar. Mas contamos também com as convidadas Mirtzi Lima Ribeiro e Valéria Kataki e com os convidados Hairon Herbert, Julimar Silva, Ricardo Vianna Hoffmann e Tarciso Martins. Agradeço a Gilvaldo Quinzeiro pelo convite e pela oportunidade de participar de um encontro tão engrandecedor, oportunidade que temos para aprender muito sobre variados assuntos. Cliquem abaixo para assistir: Luciana G. Rugani

POESIA PARA DUAS IRMÃS

Duas irmãs, Dois corações, Duas almas que trilham o mesmo caminho: de amor, fé e união. Impossível tratar aqui só de uma delas, Suas histórias se completam. Nos olhos de uma vejo a alegria que se estampa no sorriso da outra, No abraço de uma sinto o acolhimento que se estende à presença da outra. Duas almas plenas de sensibilidade, Que sabem amar e viver com alegria, Que sabem cultivar a luz nos seus dias, E, ainda que chegue a noite, Será sempre iluminada pelas estrelas. Porque a escuridão nada é, Perante a força que emana dessa união. Luciana G. Rugani

POEMA CIGANO

Navegando pela internet encontrei uma música cigana francesa simplesmente maravilhosa: "Parlez Moi D'elle", cantada por Ricão. Encontrei também um poema cigano encantador! Escolhi ambos para compor essa minha postagem que fica como uma singela homenagem ao povo cigano. Abaixo da foto segue o vídeo com a música e o poema logo abaixo. Assistam ao vídeo e leiam o poema. São maravilhosos! POEMA CIGANO Sou como o vento livre a voar. Sou como folha solta, a dançar no ar. Sou como uma nuvem que corre ligeira. Trago um doce fascínio em meu olhar. Sou como a brisa do mar, que chega bem de mansinho. Sou réstia de sol nascente, sou uma cigana andarilha. O mundo é a minha morada, faço dela minha alegria. A relva é a minha cama macia, meu aconchego ao luar. Acendo a luz das estrelas, salpico de lume o céu. Sou livre, leve e solta, meu caminho é o coração. Sou musica, sou canção, sou um violino à tocar. Sou como fogo na fogueira, sou labaredas inquietas. Sou alegre, sou festeira, trago...