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A ROSA

por Hairon Herbert de Freitas

Inclinando para o lado, rosa observa o canto do pássaro em repetidas vezes e agradece pelo doce beijo das abelhas e dos beija-flores.
Mas, não foi sempre assim...
Um dia, no canto de um jardim simples e bem tratado, o jardineiro, com o olhar tranqüilo e atencioso, observando os insetos, retirando as pragas que insistiam nas plantas, notou um botão de rosa que desabrochava de uma bem tratada roseira.
Ficou alegre e, mais uma vez na sua vida, na expectativa. Mais parecia um médico, preocupando-se até com o vento que arejava as plantas. Nos momentos de sol escaldante, ficava a pensar numa forma de protegê-las.
Passaram-se três dias e uma linda rosa acorda, depois de botão.
Logo começa a chegada dos visitantes da natureza, sentindo seus corações alegres e agradecidos pela beleza que invadia o jardim.
Ela, por vez, sentia-se vaidosa e forte, desfilando em torno do próprio corpo a beleza que exprimia.
Teve um que tentou levá-la para um vaso, mas o jardineiro astuto não permitiu.
A rosa tinha duas irmãs que, também lindas, alertavam para sua grande vaidade,
mas ela só queria ver sua beleza, e não se preocupava nem com os espinhos que feriram as mãos do jardineiro.
As abelhas falaram a uma irmã:
- Rosa não pode ficar a exaltar suas pétalas como se fosse a única.
- Abelhinhas, sabendo disto é que alertamos rosa sobre esta atitude, mas ela só se importa consigo mesma,
nem exalar perfume ela quer, fazendo assim, para evitar a proximidade dos nossos amigos.
Conversamos com o nosso amigo jardineiro e ele sabiamente nos disse:
- Determinadas atitudes somente serão convenientemente modificadas quando o ser mudar seus
pensamentos, que serão instigados pela dor, pela compreensão e pelo desenvolvimento do amor.
Ficamos pensativas e tomamos a liberdade de fazer mais uma pergunta ao nosso querido jardineiro:
- Quando poderá acontecer uma mudança tamanha em nossa irmã rosa?
- A mudança vem com a vontade e a mesma é filha da alma. Quem faz a mudança somos nós, quanto ao tempo é estipulado pelo comportamento que adotamos.
- Gostaríamos que não demorasse muito, pois tentamos conversar sobre a beleza das árvores, sobre a terra macia que nos envolve, sobre as nuvens, enfim sobre tudo que está acontecendo neste momento.
- Queridas, algumas coisas podem ser modificadas em um pequeno tempo e outras podem durar toda uma vida.
- Estamos felizes com sua opinião, apesar da rosa ainda não escutar suas palavras, vamos retransmitir o melhor que pudermos.
Enquanto isso....
- Está chegando a abelha, vou fingir que não a vejo e espero que vá logo embora. Veja bem eu, uma linda rosa, ficar dando escuta a estas abelhas!
Notando que a rosa não queria vê-la, a abelha foi visitar suas irmãs e expôs o acontecido.
As irmãs de rosa pediram uma audiência a respeito de como ela estava ficando só e sem amigos. Conversaram demoradamente, as irmãs levaram aos seus ouvidos, as palavras amigas do jardineiro, mas rosa reclamou do sol, da brisa, do trança-trança dos insetos e dos pássaros.
- Estou cheia, ninguém vê a beleza que sou? Sou a rosa mais linda de todo este jardim.
Rosa voltou à sua postura comumente adotada desde o seu desabrochar, ficando a pensar: "como sou bela!"
As irmãs por vez exalaram perfumes e, depois de muito confabularem, resolveram que deveriam ser mais severas com rosa, apesar da sua pouca idade.
Rosa notou que as irmãs não mais a procuraram, rosa passou a sentir um vazio e um não sei que.
Perguntou:
-Por que vocês não falam mais comigo?
- Só falaremos com você se abrires o teu coração para ouvir as palavras do amigo jardineiro, não mais tocaremos em assunto referente ao crescimento interior ou mudanças.
- Ahh!!!
Rosa deixou as irmãs e voltou à sua posição favorita, mas nem tanto.
- Se pensam que vou falar com o jardineiro, elas estão muito enganadas.
O jardineiro, em sua sensibilidade, aguardava o momento do novo despertar de rosa, pensando: “na vida temos vários despertares, os melhores são os recheados de amor”.
- Estou com vontade de conversar com rosa...
- Eu também. Vamos esperar mais um pouco para não perdermos o remédio aplicado no
início do tratamento. Prometemos não importuná-la com assuntos que não são do seu interesse.
Foram dias difíceis para rosa que sentia a aspereza da vida pintada e emoldurada por sua própria falta de sensibilidade. O sol parecia mais quente, as pragas investiam, bem como a rudeza do vento.
“A vida é o espetáculo que criamos, somos astros e não precisamos necessariamente representar o papel do bandido”.
- Estou vendo que vocês não reclamam, não julgam e acima de tudo vocês amam muito rosa, que começa adotar uma postura melhor diante da vida. Nesta noite vai acontecer uma mudança muito grande no interior de rosa, vocês deverão ampara-la, abrindo os seus corações.
- Ah! Que bom podermos comungar dos mesmos pensamentos e colocarmos em prática o que de melhor podemos fazer, que é florir nosso lindo jardim.
O momento era de silêncio, somente os grilos e os sapos cantarolavam em ritmos variados ao vento, que parecia calar para escutar a noite.
Em movimentos sorrateiros, uma cabra começava fazer sua refeição no jardim. Rosa aflita perguntava:
- Quem vem? O que você faz neste jardim?
De nada adiantava as perguntas de rosa.
Rosa insistia, já trêmula observando o apetite voraz da cabra, em chamar pelas abelhas para ferroar a cabra, pois ela já invadia os copos de leite.
De nada adiantou. Rosa passou então a gritar para o beija flor:
- Venha beija flor, vá acordar o jardineiro para nos salvar da gula da dona cabra.
De nada adiantou. Rosa passa então a falar para as irmãs:
- Vamos orar por ajuda, vamos falar!
Mas as irmãs nada responderam.
Só então um sentimento invadiu rosa, que dizia arrepender-se das críticas, da falta de solidariedade e carinho.
Por um momento pôs se a chorar,compulsivamente, dizendo que mudaria sua vida se o grande jardineiro a salvasse.
Neste momento, uma voz muito doce toca seus ouvidos: "acorda rosa, acorda para a vida e seja feliz por mais este dia".
Deste dia em diante, rosa passou a ouvir o canto dos pássaros, exalar o seu perfume com muita alegria e a conversar na voz do amor com o jardineiro.
Viveu uma vida verdadeira daquele dia em diante.
Exalou muito perfume e deu muito carinho a todos visitantes.
Até que um dia rosa, cansada, começou a perder pétalas, mas em seu coração a grandeza do verdadeiro amor desabrochara.
Rosa queria sentir uma vez mais a natureza. Percebeu a presença do jardineiro, todo iluminado, na presença de uma verdadeira corte celestial a dizer: “rosa, seja bem vinda ao jardim do amor”.
“Todos nós possuímos uma rosa interior, da qual podemos modificar o seu conteúdo nas ações, nas palavras e nos pensamentos. Sejamos felizes, fazendo o bem sem esquecer do nosso papel como
atores do bem, pois só o amor é eterno como o próprio Deus”.
HHF 22/9/04.

Comentários

  1. Compreendendo a Rosa:
    A Rosa representa as fragilidades do ser humano, que possuímos em nosso íntimo e que aqui nomeamos como: “a vulnerabilidade emocional”.
    Atitude Emocionalmente Equilibrada e Desperta (AEED).
    É por esta capacidade ainda estar em desenvolvimento que optamos ou vivemos, por vezes, nos limites das nossas indecisões.
    A Rosa vivenciava uma pequena parte da verdade, dentro da total falta de sensibilidade para compreender os mundos a sua volta.
    Assim somos ao longo do caminho, enxergamos as nossas necessidades, mas não as nossas dificuldades e julgamos o outro pelos momentos que a fragilidade nos salta aos olhos.
    No íntimo a Rosa encontrava-se limitada pelo medo da mudança, e fugia boa parte de sua vida, sabendo da iminência deste fato.
    Todos nós compreendemos profundamente a Rosa, apesar de não concordarmos com sua postura diante da vida.
    O nosso mundo é complexo e o de cada outro também o é. Exige que cada situação que venha nos acometer seja analisada em profundidade, para nos capacitar a uma ação calcada na sensatez e no equilíbrio.
    A Rosa representa muitas facetas, são muitos medos, são tantas interrogações que se explicam e somente convergem num momento de compreensão.
    O tempo, a vivência e as experiências maduraram a Rosa, como amadureceram o que hoje somos. Tão diferente de outros tempos, hoje nos vemos bem mais amadurecidos e centrados.
    Gandhi respondeu uma pergunta: qual é o caminho da felicidade? Ele disse que: a felicidade é o caminho.
    Muita Paz!
    Hairon
    “Enxergamos as nossas necessidades, mas não as nossas dificuldades”.

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