
Todos sabemos o quanto se banalizou o termo "amigo", principalmente com o advento do facebook que utiliza este termo para todos que se encontram na rede. É utilizado por todos nós enquanto "facebokeanos". Mas isso não justifica que se banalize também o próprio conceito de "amizade". E isso que tenho verificado nos últimos tempos, principalmente no meio político, onde tive a experiência de conviver um pouco mais de perto nos últimos anos.
Há diversos tipos de amizades, assim como há diversos tipos de amor: amor platônico, amor materno, amor filial, amor físico. Certa vez li algo de Aristóteles sobre amizade que, nas minhas palavras e no meu entendimento, seria mais ou menos isso: além da amizade perfeita, caracterizada pelo puro exercício do bem-querer, há também as amizades motivadas pela utilidade e pelo prazer. A amizade duraria, então, até onde pudesse ser útil ou até onde estivesse sendo agradável ao nosso ego. A partir do momento em que não houvesse mais benefício a receber ou a partir do momento em que fosse dito ou colocado algo que não soasse tão agradável para nós, a amizade estaria desfeita. Seriam então amizades transitórias, voláteis, diferentemente da amizade perfeita, que subsistiria a qualquer situação, pois que o bem simplesmente pelo bem não se prende a condições.
Acontece que hoje há uma confusão geral, o conceito puro e único destes sentimentos se confundiu com as diversas formas de manifestação. Eu entendo e concordo com a definição de que a amizade verdadeira é o querer bem do outro, alegrar-se quando ele se dá bem, compartilhar e interagir tanto nos altos como nos baixos da vida. É pura liberalidade, doar, dar-se e dar atenção independente da situação do momento. A essência da amizade é o bem, e, dessa forma, uma verdadeira amizade é algo raríssimo pois o bem puramente bem é algo também muito raro na espécie humana.

Lembro até hoje, de certo conhecido do face me dizer que "não acreditava em amizade no meio político". Na época lamentei comigo mesma o fato de ele pensar assim e não imaginei que teria que sentir na pele essa experiência para finalmente vir a concordar com ele. Hoje vejo quanto que a utilidade e o prazer predominam nas relações neste meio! Quantas pessoas que, até uns meses atrás, outras um pouco mais, interagiam, curtiam, compartilhavam... e quando obtiveram o que queriam, silenciaram. Quantas pessoas nos procuram e outras respondem a nossas colocações somente quando lhes é conveniente.. Quantas nem nos "enxergam", mas nos deixam ali em seus perfis para uma possível necessidade.. e as que nos respondem com desculpas estapafúrdias? Inventam cada absurdo para justificarem seu silêncio! São todas pessoas movidas exclusivamente pela troca de interesses. Vivem assim, acostumaram-se tanto a ser assim em suas vidas que até mesmo assuntos pessoais ganham conotação de propaganda com finalidade de promoção social.
A política gira em torno de interesses, portanto o meio político funcionando da mesma forma é mera consequência dessa premissa. É fato constatado pela observação e vivência durante certo espaço de tempo. O que é lamentável é o quanto muitos incorporaram essa forma de amizade como conceito em suas vidas, fechando-se para o significado primeiro e verdadeiro desse termo, e com isso atrofiando sua capacidade de amar e doar-se. Apequenaram-se ao apequenar um sentimento. Esqueceram que antes de tudo são seres humanos destinados a aprimorarem seus dons e capacidades, entre eles a capacidade de amar.
Fui obrigada a concordar com este conhecido, e constatei essa realidade. Mas essa constatação não significa pra mim uma regra a cumprir. Aprendi a perceber, a distinguir os interesses na nebulosa dos contatos efêmeros, mas ainda continuo sendo eu mesma. Conheço as regras do jogo mas não sou o jogo. Aprendo a tornar-me esperta como as serpentes, mas não a tornar-me uma serpente. Porque antes de tudo, sou um ser humano que busca aprimorar-se a cada dia. Minha vida tem amplas facetas (família, trabalho, relacionamentos, etc.) mas não sou nenhuma delas. Sou a soma de todas, e não me fecho em nenhuma delas. Aprendi que a sabedoria consiste em vivermos no meio mas sem sermos o meio. As regras do meio, seja ele político, social, de alguma categoria profissional, ou qualquer que seja, não serão as regras do meu viver. Continuarei aberta a vivenciar sentimentos de forma mais ampla e real, mas agora não mais lançarei pérolas aos porcos. Saberei distinguir melhor onde, quando e aqueles que estão aptos e são merecedores de receber a graça de um sentimento real.
Luciana G. Rugani
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