DUAS PERSONALIDADES DA HISTÓRIA DE BELO HORIZONTE E DO BRASIL. PADRE EUSTÁQUIO, HOJE BEATO EUSTÁQUIO, E JUSCELINO KUBITSCHECK: O ENCONTRO DE DUAS ALMAS AMIGAS E MISSIONÁRIAS.
ENCONTRO
HISTÓRICO - JUSCELINO E PADRE EUSTÁQUIO
Por Maria de Lourdes Costa Dias Reis –
Professora/Mestre em História, jornalista e escritora
Duas
personalidades marcaram indelevelmente a história de Belo Horizonte: Padre
Eustáquio e Juscelino Kubitscheck.
Padre
Eustáquio nasceu em 3 de novembro de 1890 na pequena cidade de Asrle Rixtel, na
Holanda, sendo batizado com o nome de Humberto Von Lieshout. Muito jovem entra
para a Congregação dos Sagrados Corações e foi enviado primeiramente para a
Espanha. Depois, junto com dois padres, foram os três primeiros sacerdotes da
Congregação dos Sagrados Corações a virem para o Brasil. Chegou ao Rio de
Janeiro em 12 de maio de 1925 para tomar conhecimento da língua local e
acostumar-se com o novo país. Foi enviado primeiramente para o Santuário de
Abadia de Água Suja, paróquia da Diocese de Uberaba. Depois foi transferido
para a cidade de Romaria em São Paulo e depois para Poá. Ali, nesta cidade,
começou a operar milagres e curas, provocando a vinda de inúmeras pessoas para
o local. Esta atração de pessoas incomodou aos padres da região, provocando sua
transferência para a cidade de Araguari. Mas a fama de milagreiro e curador não
desgrudava de Padre Eustáquio.
Juscelino
Kubitschek era um jovem de origem tcheca, pelo lado materno, filho de família
humilde, nascido em 12 de setembro de 1902 na cidade de Diamantina. Veio muito
jovem para Belo Horizonte e estudou com muita dificuldade e esforço, até
encaminhar-se para a Faculdade de Medicina da UFMG. Tornou-se um cirurgião
exímio, especialista em clínica renal e casou-se com Sarah Lemos, filha única
de um deputado federal. Em 1942, já exercendo o cargo de Prefeito de Belo
Horizonte, e, ainda exercendo a medicina, o jovem casal, embora quisessem
muito, não podiam ter filhos. Já estavam casados há vários anos e Sarah havia
realizado muitos exames médicos, consultado com os melhores especialistas da
cidade e não conseguia engravidar. Isso enchia o jovem casal de tristezas e
incertezas.
Um
dia, o prefeito Juscelino foi aconselhado a procurar um padre na pequena e
pobre Vila Progresso, em Belo Horizonte, local simples habitado por operários e
gente simples. Segundo o conselheiro, o padre já havia operado milagres e curas
em São Paulo e no Triângulo Mineiro e isso poderia ser benéfico para Dona
Sarah. Juscelino, um dia, resolveu procurar o jovem padre na pequena vila
operária, uma região pobre, coberta de mato, com pequenas casas e cheia de ruas
de poeira. Padre Eustáquio era um homem forte, corpulento, muito alto e com
dois olhos azuis penetrantes que envolviam a pessoa com quem conversava. O
padre, ao ser procurado pelo Prefeito, olhou Juscelino e Dona Sarah com o olhar
profundo de seus olhos azuis e, passou sua mão pesada e firme na barriga da
mulher. Disse: - Prefeito, daqui a nove meses, traga a menina para eu batizar.
E não disse mais nada...
No
outro mês, Sarah já estava grávida e o casal morria de alegrias.
Juscelino
a partir daí não se desgrudou mais de Padre Eustáquio. Este era seu conselheiro
político e amigo espiritual. O prefeito então doou dois quarteirões da pequena
vila para a Congregação dos Sagrados Corações poder erigir sua igreja, pois a
vila só possuía uma simples capela, no fim do bairro, chamada Cristo Rei. Padre
Eustáquio apenas lançou a pedra fundamental da futura Igreja dos Sagrados
Corações e disse que começava a igreja mas não iria vê-la concluída. Após os
nove meses da visita de Juscelino a Padre Eustáquio, Dona Sarah ganhou uma
menina à qual deram o nome de Márcia, filha única do casal. Anos mais tarde, adotaram,
como filha, a menina Maristela, para fazer companhia a Márcia.
Padre
Eustáquio não viu a conclusão da igreja, pois em suas andanças pelas ruas
cobertas de mato do bairro, foi picado por um carrapato no umbigo e adquiriu
uma doença perigosa e sem cura para a época: de tifo exantemático. Ele padeceu
alguns dias no Hospital do bairro, hoje o Hospital André Cavalcanti, onde veio
a falecer aos 53 anos de idade, em 30 de agosto de 1943.
Uma
enormidade de gente afluiu ao enterro de Padre Eustáquio no Cemitério do
Bonfim, fato inédito em Belo Horizonte. Juscelino então mandou mudar o nome da
via mais importante da vila, caminho que iniciava próximo ao centro da cidade e
ia até a vizinha povoação de Contagem. Era um caminho tortuoso, cheio de curvas
e chamado Avenida Contagem. Juscelino, em homenagem ao santo padre, deu a
denominação de Rua Padre Eustáquio à Avenida Contagem. A partir daí, o bairro
não parou de crescer. Ao lado da Igreja dos Sagrados Corações, mais tarde
conhecida apenas como Igreja de Padre Eustáquio, foi erguido o Colégio Padre
Eustáquio, com o objetivo de oferecer ensino particular aos filhos dos
moradores do bairro. Juscelino ainda demonstrou mais gratidão ao amigo santo:
mandou construir casas populares, vendidas a preços módicos para funcionários
públicos nos quarteirões que rodeavam a Igreja.
Outro
fato que também marcou a vida de Juscelino, ligado a Padre Eustáquio: Juscelino
já era governador de Estado, no período dos anos 50. Um dia, estando muito
cansado, pelas atribuições do cargo e se preparando para se candidatar a
Presidente da República, pediu para não ser incomodado por ninguém no Palácio
das Mangabeiras, pois queria descansar sozinho em seu quarto. Trancou a porta
por dentro e pretendia dormir com tranqüilidade. De repente, viu um padre de
batina branca entrar em seu quarto e debruçou-se como para abençoá-lo e parecia
querer dizer alguma coisa. O governador, meio sonolento, ouviu quando o padre
lhe disse que ele realmente seria Presidente do Brasil. Faria um grande
governo, mas seria perseguido, injuriado e iria sofrer muito por isso.
Juscelino assustou-se e levantou-se rapidamente, querendo pegar o padre. Este,
de repente desapareceu, como por encanto, na parede do quarto. Juscelino abriu
a porta e saiu gritando para a guarda governamental que detivessem o padre,
pois ele queria falar com ele. Ao que os soldados, de pronto, falaram que
ninguém havia entrado no Palácio, nem mesmo este tal padre. Juscelino ficou
muito assustado, mas achou que seria esta mais uma revelação de Padre Eustáquio...
A
pequena vila Progresso passou a chamar-se bairro Padre Eustáquio, em homenagem
ao santo padre. Ruas foram abertas, casas construídas, e o progresso foi
chegando devagar ao local. Hoje, o bairro Padre Eustáquio é um dos mais
populosos de Belo Horizonte, ostentando a marca de 28.000 habitantes, local
sossegado, aprasível e bom de morar. Boas casas marcam as ruas do bairro , que
possui grande estrutura de comércio, rede bancária, supermercados, boa rede de
transporte coletivo, oferecendo ainda a seus moradores segurança e sossego.
Como moradora há 46 anos do bairro Padre Eustáquio, credito ao Beato Padre
Eustáquio este progresso do local e considero o bairro um local abençoado por
este, que deverá ser, em breve, o primeiro santo mineiro. Dia 30 de agosto é
considerado o “Dia de Padre Eustáquio”, por marcar a data de sua morte e dia
venerado pelos moradores e fiéis de toda Minas Gerais.
Fonte:
Folha do Padre Eustáquio nº 211 – agosto de 2011
Gostei desta matéria. Muitas coisas que aconteceram na vida deste grande homem que a igreja ou órgãos jornalísticos conceituados não publicaram, e que vemos num jornal de bairro que por ser menor não é menos conceituado.
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