Pular para o conteúdo principal

REVISTA DIGITAL ALDEIA MAGAZINE / BLOG DO TOTONHO: "DE GECAY A CABO FRIO"

Em julho de 2023, por ocasião do Dia Nacional do Escritor, foi lançada a terceira antologia literária da Academia de Letras e Artes de Cabo Frio - ALACAF, intitulada "Cabo Frio em Verso & Prosa". Podemos dizer que esta seria a "ALACAF celebra Cabo Frio III", se seguirmos a denominação das antologias produzidas pela ALACAF, entretanto esta, talvez por não se tratar de uma antologia somente de poemas, mas também crônicas, não recebeu a mesma denominação. 
Eu participo com meu conto "De Gecay a Cabo Frio", cujo texto segue mais abaixo.

-------------------------------------------------------
Em 30/4/23, saiu a edição 41, mês de abril, da Revista Digital Aldeia Magazine, com minha coluna "Cantinho das Ideias", na página 104.
Nesta edição, apresento um conto que escrevi sobre a cidade de Cabo Frio, apelidada de Gecay, na língua tupi, pelos povos indígenas que ali viviam. Neste conto, busco ligar passado, presente e futuro, ressaltando a importância de conhecermos a história para um melhor presente e melhor futuro. Em 8/8/24, publicado também no Blog do Totonho:

De Gecay a Cabo Frio

Era fim de domingo. A linda tarde de sol começara a ceder seu espaço para a noite, deixando no céu seu rastro róseo-avermelhado. O mar, agora recuado, manso, como a querer descansar após um dia de agitadas brincadeiras. A areia branca, como fino polvilho a acolher nossos pés, convidou-me a deitar. Aceitei o convite e, ali, sob o carinho acolhedor e ainda quente do dia, adormeci e sonhei.
Vi-me a bordo de uma embarcação a observar uma terra rica de sal, povoada por indígenas tupinambás, onde a natureza era a proprietária plena. Uma vegetação atlântica riquíssima, farta de plantas medicinais, e muito pau-brasil a florir: Essa terra era conhecida pelos indigenas como Gecay, que, em tupi, significa um tempero de cozinha feito com sal grosso e pimenta.
Enquanto eu observava, repentinamente tudo passou a movimentar-se de maneira acelerada. Era o passar do tempo. O tempo a passar e eu ali, a observar.
Pude ver a chegada do homem branco, assisti a guerras e disputas terríveis. Em lágrimas, pude ver o pau-brasil indo embora e os indígenas sendo dizimados. Assisti a uma das tristes chegadas de escravos africanos no Bairro da Passagem. Vi construírem a feitoria e o Forte São Matheus. E, no acelerar do tempo, passei a voar. Voando sobre a cidade, vi surgirem a Igreja de São Benedito e a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção. Vi surgir também o Charitas e o convento. E vi pessoas! Vi Teixeira e Sousa a rabiscar seus versos, vi vários poetas e músicos. Vi Antônio de Gastão! Mas o tempo seguia correndo e, de repente, vi, ao meu redor, prédios serem erguidos. Então, esforcei-me para voar mais alto. Vi a antes robusta e plena natureza transformar-se e ralear. Vi a laguna sofrer ao despejarem em si os dejetos, vi sofrer a pesca e brotar a força do turismo, vi ir embora a era do sal. E, em meio a muito burburinho, despertei!
Já era noite. O burburinho vinha da beira-mar, com seus restaurantes, bares e todos que ali transitavam, sem terem a menor ideia de onde verdadeiramente estavam. Estavam ali, em Cabo Frio, porém sem conhecê-la, sem perceber a riqueza da história que lhes permitiu estarem ali. Sem entender o porquê de certos nomes, de hábitos e tradições. Fiquei de pé e caminhei. Meu caminhar foi mais firme, pois agora tinha vivo em mim o passado, que me possibilitou compreender melhor o presente. Meu caminhar tornou-se mais próspero, pois, com o passado vivo em mim, aprendi a escolher o que poderá ou não colaborar para um amanhã com mais vida e mais humanidade. Mas, não basta guardar em mim esse sonho, egoisticamente, pois o entendimento do hoje e a transformação do amanhã só acontecerão se houver a construção dessa memória.
De Gecay a Cabo Frio, conhecendo, sentindo, amando, preservando e cuidando dessa cidade linda que tanto nos inspira amor e poesia. Esse é o caminho para que, no futuro, o sonho não seja um pesadelo.

Luciana G. Rugani
-------------------------------------------------------
Em 8/8/24, publicado no Blog do Totonho :

Comentários

  1. Parabéns, minha querida!!!!Muito orgulhosa de vc ,amiga!!!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

4ª EDIÇÃO DO BARALHARTE - DISCUSSÃO DE TEMAIS DA ATUALIDADE

Ontem, sábado, aconteceu a 4ª edição do BARALHARTE!  Trata-se de um encontro de debatedores sobre quatro temas atuais, representados pelos quatro naipes do baralho e por quatro regiões diferentes de nosso país. Cada debatedor leva um tema que será debatido pelos demais e também por convidados presentes. Os debatedores desta edição foram eu, Luciana, representando o estado do Rio de Janeiro, Gilvaldo Quinzeiro, representando o Maranhão e Amaro Poeta, representando Pernambuco. Fernanda Analu, representando Santa Catarina, em razão de um compromisso de última hora, não pôde participar. Mas contamos também com as convidadas Mirtzi Lima Ribeiro e Valéria Kataki e com os convidados Hairon Herbert, Julimar Silva, Ricardo Vianna Hoffmann e Tarciso Martins. Agradeço a Gilvaldo Quinzeiro pelo convite e pela oportunidade de participar de um encontro tão engrandecedor, oportunidade que temos para aprender muito sobre variados assuntos. Cliquem abaixo para assistir: Luciana G. Rugani

CANÇÃO DO IRMÃO AUSENTE (PRECE DO AMOR)

por Luciana G. Rugani - A oração alimenta a alma e a boa música eleva nossos sentimentos. E quando temos ambas, unidas em uma só obra, que maravilha não fica! Quando a musicalidade é a própria prece, o efeito de paz em nosso ser é imediato. Fiquem hoje com essa joia, esse louvor encantador na voz de Elizabeth Lacerda. Cliquem no vídeo abaixo para ouvir: Canção do Irmão Ausente Como estiveres agora Nosso Bom Deus te guarde Como estiveres pensando Nosso Bom Deus te use Onde te encontres na vida Que Deus te ilumine Com quem estejas seguindo Nosso Senhor te guie No que fizeres tu Peço ao Bom Deus Que possa te amparar E em cada passo teu A Mão de Deus Irá te abençoar Como estiveres agora...

POEMA: DIREITOS HUMANOS

Direitos Humanos Humanos não parecem ser Os que a vida vivem a abater. Humanos não parecem ser Os que a liberdade insistem em tolher. Humanos não parecem ser Os que a equidade negam reconhecer. Vida, com dignidade, Liberdade, com respeitabilidade, Respeito à diversidade, Educação, com qualidade. Quesitos de uma sociedade Que reconhece a humanidade. Não há que ser humano direito Para um direito humano merecer. Ser perfeito não é o preceito  Basta apenas o ser! Será mera utopia Em meio à distopia? Direitos humanos, como há de ser Onde há mais desumano que humano ser? Luciana G. Rugani Acadêmica da Academia de Letras e Artes de Cabo Frio - ALACAF e da Academia de Letras de São Pedro da Aldeia - ALSPA  2/9/22