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REVISTA DIGITAL ALDEIA MAGAZINE - COLUNA CANTINHO DAS IDEIAS - POETA PABLO NERUDA

Saiu a edição 39, mês de fevereiro, da Revista Digital Aldeia Magazine, com minha coluna "Cantinho das Ideias", na página 106.
Nesta edição, falo sobre a 10ª edição do Sarau 15 Minutos, que aconteceu no dia 24/2/23 e teve como tema o poeta Pablo Neruda:

PABLO NERUDA

No dia 24 de fevereiro, aconteceu a 10ª edição do meu projeto Sarau 15 Minutos, com o tema “Um pouco sobre Neruda”.
O que me levou a realizar essa edição sobre o poeta Pablo Neruda foi a notícia recente, divulgada pela mídia, de que exames teriam possibilitado a conclusão de que o poeta não teria morrido em decorrência do câncer de próstata de que sofria, mas sim de envenenamento. Pablo Neruda teria sido envenenado quando esteve internado em uma clínica, por meio de uma injeção que teria sido aplicada por um agente secreto, disfarçado de médico, do regime ditatorial de seu país.
Neruda (1904-1973) foi um poeta chileno que utilizava a poesia para expressar sua manifestação político-social. Era um líder de esquerda, um ativista, e isso incomodava muito os governantes autoritários do Chile. Sua morte deu-se apenas 12 dias após a tomada do poder pelo ditador Augusto Pinochet, o que levou à morte também de Salvador Allende, então presidente do Chile e amigo de Neruda.
O nosso convidado dessa edição foi o prof. Isac Machado de Moura, nosso confrade na Academia de Letras e Artes de Cabo Frio - ALACAF. Isac abordou aspectos relevantes da história de Neruda e também polêmicos, como fatos referentes à maneira como o poeta tratava as mulheres. Uma das conclusões que a fala do professor Isac nos proporcionou foi sobre a importância de nunca idealizarmos alguém, pois o ser humano idealizado, perfeito em todos os aspectos, não existe. E, quando tomamos ciência de que nossa idealização não corresponde à verdade de alguém, a decepção, em relação a esse alguém, se faz presente. Em relação a Neruda, antes de ser poeta e ativista político, ele era um ser humano comum, com defeitos e virtudes, portanto passível de erros nessa ou naquela área da vida. Um admirável poeta, com escritos românticos, políticos e sociais, mas também simplesmente um homem, com seus erros e acertos.
Foi um momento muito bacana e de muito aprendizado. Recomendo aos leitores que assistam a essa edição no meu canal do Youtube.
Para esse sarau, o professor Isac leu um poema de Neruda intitulado “Eu não me calo”, e também um texto do poeta que teria sido escrito em homenagem ao Partido Comunista do Chile. Eu apresentei o poema “O monte e o rio”, em que o poeta une, no mesmo texto, o motivo sócio-político e o amor. Ele relata sua busca pela transformação social de seu país e o desejo de que sua amada siga com ele nessa busca. Li também seu belo poema romântico “Se me esqueceres”.
Seguem abaixo os textos apresentados:

Eu não me calo

Eu não me calo.
Eu preconizo um amor inexorável.
E não me importa pessoa nem cão:
Só o povo me é considerável,
Só a pátria é minha condição.
Povo e pátria manejam meu cuidado,
Pátria e povo destinam meus deveres
E se logram matar o revoltado
Pelo povo, é minha Pátria quem morre.
É esse meu temor e minha agonia.
Por isso no combate ninguém espere
Que se quede sem voz minha poesia.

(Neruda, 1980)

Pablo Neruda: A meu Partido

Me deste a fraternidade para o que não conheço. Me acrescentaste a força de todos os que vivem. Me tornaste a dar a pátria como em um nascimento. Me deste a liberdade que não tem o solitário. Me ensinaste a acender a bondade, como o fogo. Me deste a retidão que necessita a árvore. Me ensinaste a ver a unidade e a diferença dos homens. Me mostraste como a dor de um ser morreu na vitória de todos. Me ensinaste a dormir nas camas duras de meus irmãos. Me fizeste construir sobre a realidade como sobre uma rocha. Me fizeste adversário do malvado e muro do frenético. Me fizeste ver a claridade do mundo e a possibilidade da alegria. Me fizeste indestrutível porque contigo não termino em mim mesmo.

O monte e o rio

Na minha pátria há um monte.
Na minha pátria há um rio.

Vem comigo.

A noite, ao monte sobe.
A fome desce ao rio.

Vem comigo.

Quem são os que sofrem?
Não sei, mas são meus.

Vem comigo.

Não sei, mas me chamam
e me dizem: “Sofremos”

Vem comigo

E me dizem:
“Teu povo,
teu povo abandonado
entre o monte e o rio,

com fome e com dores,
não quer lutar sozinho,
está esperando-te, amigo.”

Ó tu, a quem amo,
pequena,
grão vermelho de trigo,
será dura a luta,
a vida será dura,
mas tu virás comigo.

Se me esqueceres

Quero que saibas
uma coisa.

Sabes como é:
se olho
a lua de cristal, o ramo vermelho
do lento outono à minha janela,
se toco
junto do lume
a impalpável cinza
ou o enrugado corpo da lenha,
tudo me leva para ti,
como se tudo o que existe,
aromas, luz, metais,
fossem pequenos barcos que navegam
até às tuas ilhas que me esperam.

Mas agora,
se pouco a pouco me deixas de amar
deixarei de te amar pouco a pouco.

Se de súbito
me esqueceres
não me procures,
porque já te terei esquecido.

Se julgas que é vasto e louco
o vento de bandeiras
que passa pela minha vida
e te resolves
a deixar-me na margem
do coração em que tenho raízes,
pensa
que nesse dia,
a essa hora
levantarei os braços
e as minhas raízes sairão
em busca de outra terra.

Porém
se todos os dias,
a toda a hora,
te sentes destinada a mim
com doçura implacável,
se todos os dias uma flor
te sobe aos lábios à minha procura,
ai meu amor, ai minha amada,
em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem se esquece,
o meu amor alimenta-se do teu amor,
e enquanto viveres estará nos teus braços
sem sair dos meus.

Pablo Neruda, in “Poemas de Amor de Pablo Neruda

Luciana G. Rugani

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