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O DESPERTAR INDIVIDUAL E A TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE HUMANA

Hoje, na minha coluna, no Blog do Totonho, faço algumas considerações e reflexões sobre os últimos acontecimentos da atualidade e uma fala de personagem de novela que muito tem a ver com nossa realidade:


Dois lances diferentes que, aparentemente, nada têm a ver um com o outro, mas que, juntos, na minha mente, provocaram uma reflexão que, hoje, compartilho com vocês. Um, digamos que pertence a uma esfera "macro", e o outro a uma esfera "micro":
1) a notícia sobre o envio de navios norte-americanos para a costa da Venezuela;
2) uma pequena fala do personagem Alberto, na novela "A Viagem".
Quando ouvi a notícia sobre os navios norte-americanos, comecei a recordar os já infindáveis episódios de nossa história em que falam mais alto a prepotência e o uso da força como meio de autoafirmação das nações. Quantos impérios se formaram e se desfizeram durante o passar dos milênios! Quantas guerras, quantas divisões, destruições, trocas do bastão de poder. Quanto extermínio de povos! Judeus, ontem perseguidos pela fúria do nazismo, hoje arruínam Gaza, impondo um perverso e sem fim genocídio. Grandes impérios que viviam para dominar, como o império romano, chegaram ao fim; nações que surgiram em decorrência de lutas pró-independência, anunciando ideais republicanos e ideias iluministas, como os Estados Unidos da América - EUA, hoje entendem "governar" como "dominar", especialmente terras com metais nobres ou nações com petróleo. Parece que tudo acontece repetidas vezes, com troca de posição entre povos perseguidos e perseguidores, e nada se aprende com a história.
O que vemos acontecer hoje, com esse governo dos EUA, é uma governança prepotente, imperialista e dominadora, com um governante que se acha capaz de impor um governo mundial. Um governo que não respeita a soberania de seus vizinhos do continente e que não tem o menor pudor em anunciar "Vamos recuperar o nosso quintal", referindo-se ao controle e domínio dos países da América Latina. Isso não significa dizer que os governantes anteriores também não compartilhassem do pensamento imperialista. Esse pensamento de dominação esteve sempre presente ali, os EUA cresceram por meio de estratégias de domínio. Mas esse governante atual é surreal! Age como criança mimada querendo um brinquedo e se vinga quando percebe que há outros que sabem brincar muito melhor do que ele. Sua personalidade parece formada no ódio. Assim como aquele outro que esteve no poder aqui no Brasil, esse aí também não deixa passar um dia sem espumar seu rancor nas palavras.
Na evolução da humanidade, parece que toda a evolução tecnológica apenas sofisticou a perversidade. O avanço da tecnologia fez-se presente em todas as áreas, mas não foi capaz de amenizar a ânsia imperialista e a ganância que só enxerga a exploração do outro como meio de crescimento. 
O segundo lance ao qual me referi, no início deste artigo, é um trecho da novela "A Viagem" em que o personagem diz: "Na vida a gente só colhe aquilo que semeia, é preciso aprender com as coisas que nos fazem. Aprender. Não ficar repetindo, eternamente, os mesmos erros. Nós sempre vamos encontrar dificuldades na vida. Pedras do caminho. Esses obstáculos existem para nos tornar mais vigilantes, para que nos tornemos pessoas melhores, mais lutadoras, mas sem amargura. Todo mundo está vendo esse mundo do jeito que está. Esse mundo tá precisando de alegria, tá precisando de amor, tá precisando de decência. Sem tanto ódio, sem tanta vingança".
Apesar de a novela ter tido sua primeira versão em 1975 e a segunda em 1994, essa fala do personagem Alberto aplica-se perfeitamente à atualidade. O personagem balizou sua fala na esfera individual, mas o que é uma sociedade, senão um coletivo de individualidades? O que vale no âmbito "micro", vale também no âmbito "macro". Enquanto as individualidades não despertarem para a necessidade de uma consciência transformadora capaz de alterar esse eterno "bateu-levou" em que navega a humanidade, não se quebrará esse ciclo de destruições, guerras, ódio, desrespeito às soberanias de povos e de nações. Enquanto os indivíduos acharem normal um governante vociferar todos os dias para semear a insegurança generalizada do caos, como meio de dominar e impor seu poder, continuarão sofrendo o mesmo penar que há séculos e milênios assola a humanidade. 
O momento não é para aceitar o jogo e impregnar-se da insegurança que semeiam, do ódio, da vingança e da ganância que destilam e que só gera mais exploração e mais cultura de  intolerância e de apatia pelo outro. O momento é para fazer diferente nas relações individuais, de fazer o contraponto. Perceber o jogo, buscar conhecimento, mas não absorver o lixo emocional, e fazer ainda melhor por si, pelo outro e pela sociedade em que se vive. Agir com empatia, respeito e com senso de coletividade. Só assim uma sociedade tem potencial para se transformar e ser como a palmeira em vento forte, que chega até a deitar completamente seus ramos, mas que se apruma e segue firme após o vendaval.

Luciana G. Rugani
Pensadora, escritora e poeta

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